Nunca fui de chiliques, depressões, fraquezas de espirito. Na minha terra e na minha família não havia tempo para esse tipo de coisas. Se algo estava mal, consertava-se e andava-se para a frente. Não sei o que me deu, mas seja lá o que tenha sido, a minha senhoria viu e tratou, deu-me o remédio, mandou-me a casa e resolveu a questão. Parti numa sexta-feira depois do dia de trabalho e graças a uma mentira da minha tia emprestada que ligou para o escritório a dizer que eu tinha passado mal a noite, ainda consegui a segunda de bónus, regressando nesse dia ao final, um risco que me deu algumas dores de barriga, mas pronto, já está. Os meus pais quando me viram à porta ficaram surpreendidos e a primeira pergunta foi se eu tinha sido despedida. Mas que linda recepção! Não, estou doente, vim a casa para me tratar, respondi. Mas a seguir desatei a rir e claro que a minha mãe disse o que sempre dizia quando eu era garota, doente com o cú quente, que é como quem diz, queres ficar na palha sem fazeres nenhum. Que interessa? Mesmo que eu conseguisse explicar (que não consigo nem a mim) eles não iriam entender a razão de eu estar ali com eles, a necessidades de os ver, de sentir o cheiro de casa, os lençóis da minha cama, o terreno lavrado nas traseiras com as couves empinadas, o galo a esganiçar-se quando toda a gente dorme na cidade. Tudo aquilo me fazia falta, fazer-me sentir parte de alguma coisa minha. Os meus castelos andam a desmoronar-se ao contrário de se erguerem, nunca poderei explicar isto a quem é da terra.
Sem comentários:
Enviar um comentário