Se não tens cão caça com gato, se não tens gato caça com arma

Somos uma equipa. Dizem. Agressiva. Dizem. Pro-Activa. Dizem. O meu grupo é constituído por dezassete "correios". Quatro, somos mulheres, o resto é homem, miúdos a ganharem para a playstation e ainda os que tentam sacar alguma ajuda para a faculdade. Das mulheres, eu e outra somos solteirissimas, há uma em regime de ajuntamento (vive em casa dos pais dele) e a outra é casada, mãe e saco de pancada do marido que está sempre enfermo para bulir mas tem força suficiente para a sovar. No fundo, andamos todos ao mesmo: Sobreviver. Por isso, quando o marido da casada apareceu à porta do escritório no final do expediente, e todos nós com bolhas nos pés, desidratados, cansados e infelizes o vimos, apenas o ignorámos. Triste, achei-o um triste. A casada disse traste, que é que este traste quer, mas acabou por me fazer coro e sussurrou que tristeza. O marido vinha saudável nesse dia, berrava como um capado, ofendía-a, depois juntou-nos a todos no mesmo tom e a mulher agarrou as últimas forças e atirou-lhe o monte de papéis empilhados para o dia seguinte, aliás uma promoção valiosa, já que anexava uma amostra de shampoo para cabelos normais. Ele atirou-se a ela, tinha o cabelo oleoso. E próximos, mas tão próximos quanto sempre havíam estado, a mulher casada disparou a pistola que havía comprado com o salário dos dois últimos meses.