Companhias

Depois de combinado, aconteceu: Fomos tomar café. E ainda outra vez. E de novo. E também fomos jantar. Nada de especial, fomos comer uma pizza. Mas para quem não sai, não tem convites para além dos contactos esporádicos que restaram da faculdade ou da malta da distribuição da publicidade e que cada vez menos ligam ou estão sempre ocupados com os empregos ou a casar ou mesmo a ter filhos, ou então voltaram para casa dos pais que isto está tudo pela hora da morte e todos deixámos aos poucos a liberdade que tanto custou a nós mesmos e aos nossos próprios pais, saír para uma pizza é uma acto social. E tem sido sempre bom. Aliás: Muito bom. Como as coisas são... Eu a pensar que ele era um verdadeiro monstro vestido de preto, sem nada na cabeça e só a ouvir aqueles estrondos guturais dedicados à violência e afinal, não. Nada disso. É formado em arquitectura, tem um discurso divertido, variado e é respeitoso. Não se pôs cá com brincadeiras de mãos que é uma coisa que eu odeio e da qual já tive uma experiência que quero esquecer. E conseguiu que eu falasse de mim, sem eu dar por isso, coisa que não gosto muito de fazer mas a certa altura quase que senti uma compulsão em fazê-lo, uma vontade tão grande que mesmo que não tivesse sido levada a isso eu quería, só para me sentir bem, completa. Ou talvez aliviada. Não sei. Mas sei que me senti acompanhada como já não me sentía desde que tinha saído pela 1ª vez de casa dos meus pais.
 

Encontros da pesada

Não há duvida que vivemos numa aldeia, uma aldeia grande vá lá, mas não deixa de ser um sitio onde volta e meia acabamos a esbarrar uns nos outros, inevitavelmente, mesmo que não sejamos levados a procurarmo-nos. Aliás, acho que quando nos dedicamos a essa tarefa de tentarmos encontrar seja quem for é quando nos saímos pior, e nos acasos é quando a obra sai com sucesso. Esta semana, depois de ter engolido uma sandes ao almoço resolvi saír do escritório e vir apanhar um bocado de ar. O dia estava frio mas havia um sol lindo e a conversa lá dentro é sempre mais do mesmo, tricas e boatos, fofocas da imprensa cor-de-rosa ou então coisa de serviço o que já não suporto. Vi as montras sem ver nada, e de repente tocaram no meu braço e disseram Olá. Um rapaz todo sorridente a olhar para mim e eu a dar voltas à cabeça a pensar quem sería, de onde é que eu o conheço que não me lembro. Eu tenho muito boa memória mas desta vez, nada. E ele a perguntar-me se eu não me lembrava dele. Senti-me corar como um tomate. Nada, tudo branco. Caixote do lixo, a ramona, a bófia, a birra que tomamos a seguir, não dizia nada??? Ah! O heavy que se tinha escondido comigo no latão do lixo! Mas este não é o mesmo! Para onde foram os cabelos até meio das costas? As pulseiras de picos, as correntes e o total black? Armazenados. Menos o cabelo, claro. E ria. Está a trabalhar uma firma de publicidade e esse look era muito heavy para eles, teve de o dispensar. E tomarmos um café num fim-de-semana?