Se eu acreditasse no Pai Natal

Se eu ainda fosse garota e estivesse a viver em casa dos meus pais, pediria este ano para me tirar deste emprego em que nada posso ser do que sou. Não pedia dinheiro a mais, apenas o que fosse dado em troca do que sei e do que aprendi ao longo dos anos que andei a estudar longe de casa para ter o curso que sempre quis.
Escrevería ao Pai Natal a pedir um emprego justo, acho que assim é mais certo.
E também pediria para a malta que andou comigo na publicidade, que não os esqueço. E até para aquele que se escondeu comigo no latão do lixo.
Pediría também para a minha senhoria, várias sobrinhas para lhe encherem a casa e fazerem companhia e ela ter sempre o que lhes contar.
E já que estou em maré de fantasias, pediria também mais um dia, além do dia de Natal, só mais um para ficar com a minha mãe e o meu pai, tenho saudades deles, de casa, da lareira, de quando eu podía ser simplesmente eu sem me esconder em fantasias.
 
 

É proibido rir

Não sei se aguento muito mais este meu novo emprego, mas suponho que terei de fazer das tripas o meu coração e engolir tudo, esticar a mão ao cheque no fim do mês e por o orgulho no bolso, trazer o dinheirinho para casa e pagar as minhas contas.
A verdade é que todos dias aparecem proibições, restrições, olhares reprovadores e eu já não sei como hei-de entrar naquele escritório.
Um destes dias e na pausa de 10m a que a rataria tem direito, estava eu e o rapaz dos expedientes a tomar café. Ele contava que a senhora do fatinho preto já se tinha baldado dos saltos e a queda tinha sido aparatosa. Eu ria, ele ria, tudo na maior surdina para que ninguém ouvisse.
Sinceramente que não sei de onde a mulher apareceu. O rapaz, assim que a viu, nem acabou de tomar o café, atirou com o copo para o lixo e simplesmente evaporou-se!
Fiquei eu, especada, sem saber o que dizer e só a pensar se ela tería ouvido a conversa.
Olhou para o relógio e disse que a pausa já tinha terminado e que ali era lugar de trabalho não de circo. Olhou-me fixamente nos olhos, mas tão fixamente que pensei que mos ía furar.