Claridade

Finalmente atendi o telemóvel ao J e combinámos uma saída. As coisas ficaram um bocado estranhas logo no inicio, nem eu nem ele sabíamos como é que havíamos de nos cumprimentar, por isso acabámos por dar uma cabeçada um no outro, com tanta coisa de evitar um simples beijo na face ainda foi pior. Ou melhor. Porque depois olhámos um para o outro a pedir desculpa feitos parvos e desatámos a rir da situação caricata em que nós próprios nos colocámos. E falámos francamente, como dois amigos, olhos nos olhos. Eu disse-lhe o que quero dele, mas também tive de ouvir da boca dele que pretende de mim o que um homem pretende de um relacionamento com uma mulher. É justo. Mas nada de promessas de parte a parte. Nem eu estou apaixonada por ele e lhe vou mentir quanto a isso, nem ele vai usar o que sente por mim para exigir mais da nossa amizade. Deixemos as coisas fluírem e se assim não resultar, azar, mas cada um terá de seguir o seu caminho. Beijou-me a testa à despedida. Ainda tremi, pensei que fosse de novo tentar alguma... Tenho de aprender a confiar.

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