É proibido bocejar

Os meus dias são mais do mesmo, iguais em tudo, uma repetição infindável, carregar no botão do robot para começar e desligar o botão para dar fecho ao expediente. A senhora do fatinho preto chamou-me e deu-me uma advertência: Que levo os dias a abrir a boca. Não percebi. Eu passo os dias calada, nem sequer falo com ninguém, só digo sim ou não, os cumprimentos de boa-educação e nada mais. Nada disso. Que estou sempre com sono. Eu??? Sim, sempre a bocejar. Ah, isso... Fez-se luz na minha cabeça. É bem possível, aborrecida como ando, tudo maquinal, o bocejo é o reflexo do nosso corpo a algo que fazemos de repetitivo introduzindo mais oxigénio no organismo. Hei-de reparar em mim mesma. E reparei. De facto é verdade. Volta e meia, lá estava eu a abrir a bocarra, incontrolável. Tomei nota: Para além dos trajes e das tatoos também não posso bocejar. Isto está a começar a parecer-me uma censura. E eu uma inadaptada. Não estou bem em lado algum. Só sei que estou triste.

 

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