Surpresas

Que fazer quando tudo parece estar dentro dos eixos, e de repente se é surpreendido? Eu não gosto de surpresas. Gosto de saber com o que contar. Talvez por causa da educação que recebi, aprendi a contar comigo, a planear, e a resguardar-me defendendo-me, podendo deste modo saír antes que a situação se torne dolorosa para quem nela está. Mas desta vez não me apercebi de nada a chegar, nada, e fui apanhada desprevenida. Estava mais o J a regressar a casa depois de termos ido ao cinema e conversávamos sobre coisas de infância, o que cada um fazia de partidas. Ele é um menino da cidade, não sabe nada da vida do campo, e já há algum tempo que eu vinha a falar e ele a ouvir-me sem me interromper, até que a certa altura calei-me também só para ver a sua reacção. Foi quando aconteceu. Beijou-me. Fiquei sem saber o que fazer. Não foi mau nem bom, apenas fui apanhada de surpresa, não estava nada à espera daquilo. E ele a seguir também ficou surpreso com a minha atitude. Perguntou-me se eu não tinha percebido que ele gostava de mim. Dois amigos, somos dois amigos. E ele a dizer que sim e que não, que ele sentía mais do que amizade e eu só sentía era vontade de fugir dali para pôr a minha cabeça no sitio. Mas de onde é que tudo isto apareceu que não vi nada?
 

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