O jardineiro

Há factos da vida por serem tão fantásticos, parecem cenas de filme e a que vou contar é uma delas. Esta semana apareceu no escritório um rapaz que já aqui trabalhou. Toda a gente lhe fez uma grande recepção, incluindo o Dr.. Grandes abraços, muitos beijos, beijinhos, apertos de mão, uma festa. Mas quem é esta figurinha, pensei eu. Esta figura é o antecessor do meu colega que anda na rua, nas Conservatórias, nos Bancos. Ao que me contaram, não era lá grande coisa como funcionário. Chegava tarde, esquecia as tarefas, documentos, perdía papéis e no final do 2º contrato, foi para o olho da rua. Ou melhor, comprou um bilhete de avião para a Holanda e foi de férias. Estou a ver o estilo, disse eu para comigo. Mas enganei-me, que isto de ver a embalagem nada tem com o carácter. O rapaz tem pinta de artista, mas cabeça não lhe falta, e sorte, muita sorte, porque aficionado por floricultura, dedicou-se a tratar do jardim de uns ricaços lá pelo País dos tamancos. Como? Insinuou-se, isso mesmo. Foi daqui sem cunhas, foi de férias como já referi, viu o jardim, entrou, analisou as flores e fez uma proposta ao dono da casa, tratou de tudo e no final apresentou um resultado surpreendente. De tal forma que o senhor recomendou o seu trabalho a outro, e este a outro e por aí fora, e vai daí o rapaz pediu um subsidio ao fundo comunitário que lho concedeu, abriu uma empresa e hoje é um requisitado jardineiro na Holanda. Tudo isto em 3 anos. Fiquei a sonhar. Fiquei feliz e depois tão deprimida, mas tão deprimida que me fartei de chorar antes de adormecer e ter um pesadelo horrível com tulipas gigantes a engolirem-me.
 

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