Faz de conta que é uma casa

Habito numa casa que não é minha. Para ser exacta e precisa, vivo num quarto arrendado de uma casa de dimensões consideráveis, que por sua vez não é de propriedade da minha arrendatária. Ou seja, a Senhora que me alugou o quarto também paga o aluguer a um senhorio, esse sim, legal proprietário do imóvel onde ambas habitamos. É contra a lei, sim. Mas a vida é complicada e quando ela se reformou não teve outra maneira de enfrentar a crise se não esta: alugar um dos cómodos. Já lá viveram outras raparigas, há fotografias delas muito sorridentes. A minha senhoria chama-lhes as sobrinhas, as minhas sobrinhas, eu também sou uma. Finjo que vivo em casa da minha tia, é um acordo que temos. Tudo de palavra, nada no papel, nem mesmo a quantia que lhe pago religiosamente ao dia 28 de cada mês. Se lhe desse para me pôr fora não sei como ía fingir que sería uma sem-abrigo, porque sería realmente uma. Mas creio que isso não vai acontecer. Neste momento, eu sou também parte da sua subsistência.

 

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