Os mistérios da escrita

A minha tia a fingir tem uma história de vida envolta em mistérios. Ou talvez não, talvez seja só a minha imaginação muito fértil e que já me causou muitos dissabores na mesma proporção que me leva a tirar esta brilhante conclusão. Mas não deixa de ser estranho, que uma mulher que sempre teve tudo para dar certo na vida, acabe na idade sénior, sózinha, num casarão imenso, aflita com contas para saldar e que tenha que repartir o seu espaço com estranhos para manter alguma dignidade e sustento. Que na verdade, eu sou uma estranha, ela não me conhece, e apesar do meu bom ar bem que eu a podía roubar ou até matar durante o sono. Mas o rumo da vida obriga as pessoas a confiarem no incerto e a tomarem como certo caminhos desconhecidos, o que me deixa completamente desconcertada. Na verdade, eu também tive que confiar nela e esta coisa de relações bilaterais às cegas põe-me doida, se começo a pensar muito nisso... A minha tia postiça quando tinha a minha idade nunca precisou de ser hóspede de ninguém. Nem ter sobrinhas de faz-de-conta. Sei que viveu sempre com os pais aqui nesta casa, nunca foi casada e pouco mais. Tenho muita vontade de lhe fazer perguntas. Mas também não quero desembrulhar o véu de mistério com que a envolvi.

 

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