A imigrante

Enquanto não saí do lugarejo onde nasci não sosseguei. Sempre me senti deslocada, sufocada e a ansiar por vir para a capital. Lembro-me que em miúda via as imagens na televisão e dizia à minha mãe que quando crescesse havería de morar ali. E o ali, era claro, a cidade grande, cheia de confusão, carros, muita gente a circular, tudo em antagonia ao pacato e verdejante sitio onde morava e onde todos se cumprimentam porque todos se conhecem. Na verdade eu não sou diferente dos outros. Todos os jovens da minha aldeia assim que tiveram idade suficiente para o fazer, emigraram. Eu apenas escolhi fazê-lo cá dentro e com uma licenciatura, porque decidi que não me havería de sujeitar a fazer trabalhos num país estrangeiro que não fizesse no meu. E por outro lado, nunca coloquei as coisas de forma a pensar em voltar para as origens, com uma casinha restaurada e um Mercedes em 3ª mão. Mas tudo é tão relativo. Porque cada dia que passa, tenho mais saudades da minha terra e tudo me parece mais longínquo.

 

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