Monstros na escuridão

Esta manhã, estava eu a arquivar processos quando me vieram chamar. Primeiro, nem liguei e continuei com a minha tarefa que estava quase a acabar, mas a colega referiu que era a senhora do fatinho que estava à minha espera, e nesse instante, caíu-me tudo em cima: É agora. Acabou tudo. Comecei a suar estupidamente, dos sovacos, das mãos, e lembrei-me da cena dos gritos e dos seguranças a pôr a minha pessoa fora do edifício. Nem conseguia engolir, tinha a língua seca, um nó na garganta. Lá entrei, sentei-me e ela passou-me um montinho de papéis para a mão. Depois uma caneta, dizendo que era para assinar as três cópias. E eu a pensar que para me pôr no olho da rua não é preciso tanta papelada, só mesmo com estes malditos advogados. Li. Voltei a ler, não estava a perceber nada do que lía. E ela olhou para mim e deu-me os parabéns, que o meu trabalho era impecável e que a firma contava comigo pelo menos durante o tempo do contrato que agora assinava. Os seis meses de experiência não podiam ter sido melhores. Acho que não percebi. Então... e o sorriso cínico? A forma como me olhavam? Não é para me mandarem embora? Ai, estes monstros que eu inventei com o medo que tive... Que é que eu posso dizer?
 

Sem comentários: